O jejum não é bem aceito na sociedade atual ligada ao bem-estar, ao conforto e ao consumismo porque nos lembra sofrimento e, muitas vezes, é apresentado como privação de coisas que gostamos, como: chocolates, bebidas alcoólicas, refrigerantes, alimentos saborosos… O jejum está presente em todas as religiões como forma de purificação, de solidariedade e de oração.
NA BÍBLIA, o jejum é uma prática religiosa ligada à penitência. Os fariseus e os discípulos de João Batista jejuavam com frequência. Jesus jejuou durante quarenta dias antes de começar o anúncio do Reino de Deus. Do ponto de vista religioso, o jejum é uma renúncia a um bem importante em prol do crescimento espiritual. Somente privar-se de comer ou beber, sem uma atitude interior de conversão, não leva a pessoa a ser melhor consigo, com os outros e com Deus.
A PRIVAÇÃO pela qual passamos, ao renunciar a algo legítimo, nos remete do que é passageiro para o que é eterno, do que é criatura para Aquele que é o Criador. Ao jejuar, purificamos não somente o corpo, mas também o espírito. E quanto menos apegos tivermos a coisas, mais espaço terá Deus em nosso coração. Quem jejua, desocupa o coração, o preenche de Deus e se abre ao próximo, assistindo-o e promovendo-o.
AO RENUNCIAR a bens deste mundo, entendemos que eles não são exclusivamente nossos, mas que devem ser partilhados com todos. E, alguns mestres espirituais, afirmam: Aquilo que não comemos, praticando o jejum, não pertence mais a nós, mas aos pobres. Por isso, o verdadeiro jejum é aquele que leva à conversão a Deus e ao próximo. É solidariedade com os mais necessitados.
PRECISAMOS, também, atualizar o conceito de jejum. É necessário fazer jejum do excesso de tempo gasto nas mídias sociais, jejum do ódio, de fofocas, de ciúmes, da inveja, das ingratidões, do egoísmo, da raiva, do pessimismo, de amarguras, de tristezas, da falta de perdão, de fake News e jejum de palavras: Falar menos e ouvir mais. Além disso, é necessário privar-se de comidas e bebidas e de outros bens. Há tantas coisas em nossas residências e nos locais de trabalho que podemos repartir!
JESUS nos ensina que o jejum deve ser a expressão de conversão e de caridade, e não uma prática hipócrita que não transforma nossa vida, mas nos enche de vaidade como ocorria com muitos fariseus. O jejum bíblico encontra a sua razão na profunda necessidade de partilha e de conversão. Por isso, torna-se fonte de alegria quando sabemos nos privar de algo, por amor e com amor, para vermos o outro feliz.
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito
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