Em l980, ao descer no aeroporto de Teresina-PI, o Papa João Paulo II encontrou milhares de fiéis à sua espera. Vinham vê-lo e saudá-lo. Entre as faixas, havia uma larga e bem visível com os dizeres: “O POVO PASSA FOME”. Isso impressionou a todos, principalmente o Papa, que não se conteve e exclamou: “Fome de Deus, sim; fome de pão, não!”.
MAIS DE QUARENTA anos depois, apesar do crescimento econômico, a fome se agrava e se faz sentir em todos os recantos do Brasil. Somos vítimas da inflação, da dívida externa, da corrupção, da desigualdade social… A vida encareceu demais para o pobre. O salário não acompanha o preço dos alimentos. Isso sem falar de outros gastos indispensáveis como: aluguel, luz, gás, água, transporte e medicamentos. A miséria cresce de modo assustador. O povo come cada vez menos e vive mais doente.
A FOME nos desafia e desinstala. Não é possível ficar parados diante do grito: Tenho fome! O pão não é meu, o pão é nosso, é de todos. Como é possível que ainda, hoje, haja quem morra de fome? Ao invés de crescermos na solidariedade, temos caído no individualismo que busca interesses pessoais e, às vezes, o uso da violência. Existe realmente em nós a decisão de vencer a miséria, oferecendo às pessoas pobres dignidade de vida?
O QUE FAZER? É preciso agir. Não podemos ceder à Cultura da Indiferença. Não há vida digna onde falta alimento. Temos condições para superar a fome e a pobreza que afligem nosso povo. Nossa motivação, não é somente ideológica, mas, prioritariamente, seguir o ensinamento de Jesus: “Eu estava com fome, e me destes de comer” (Mt. 25,35). É a dimensão social da fé que exige de nós engajamento na busca de soluções eficazes para o drama da fome.
O PEDIDO que fazemos quando rezamos o Pai Nosso: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje” obriga-nos a fazer tudo o que for possível para que cesse ou pelo menos diminua, no Brasil e no mundo, o escândalo da fome que afeta milhões de pessoas, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento. O profeta Isaias suplica: “Reparte o pão com o faminto” (Is. 58,7). O que estamos fazendo para repartir o pão com os famintos?
PARA SENSIBILIZAR a sociedade, diante dessa situação da fome, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), apresenta, pela terceira vez, a FOME como tema da Campanha da Fraternidade deste ano, com o lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt. 14,16). É o próprio Jesus que afirma: “Eu estava com fome e não me destes de comer” (Mt. 25,42). É preciso empenho pessoal, comunitário, social, político e eclesial para superar a fome em nosso País.
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito
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