Petista, que governou o país de 2003 a 2010, foi eleito neste domingo (30). Lula venceu Bolsonaro no segundo turno e voltará ao Planalto três anos depois de deixar a prisão.
Quase doze anos após encerrar o governo com aprovação recorde e três depois de sair da prisão, onde passou 580 dias, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito neste domingo (30), em segundo turno, presidente da República pela terceira vez.
Ao superar Bolsonaro, primeiro presidente a perder a reeleição, Lula demonstrou ter apoio popular mesmo diante de escândalos de corrupção das gestões petistas e reforçou a capacidade de articulação ao reunir amplo arco de alianças, que incluiu antigos adversários, entre os quais o futuro vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB). O ex-tucano foi vencido pelo próprio petista em 2006.
Derrotado em 1989, 1994 e 1998, vitorioso em 2002, 2006 e 2022, Lula é o primeiro político a vencer três eleições presidenciais no Brasil. Em 1º de janeiro, repetirá a cena de duas décadas atrás. Subirá a rampa do Palácio do Planto para vestir a faixa presidencial e dar início ao novo mandato de quatro anos de duração.
O resultado foi confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às 19h57, quando 98,81% das urnas já tinham sido apuradas.
Àquela altura, Lula tinha 50,83% dos votos válidos e não poderia mais ser alcançado por Bolsonaro, que contabilizava os outros 49,17% de votos válidos.
Para vencer em segundo turno, o candidato à Presidência precisa superar os 50% de votos válidos – mesmo que seja por apenas um voto.
Infância
Sétimo filho do casal de lavradores Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Mello, a dona Lindu, Lula nasceu em 1945 no interior de Pernambuco. Aos sete anos, subiu em um caminhão rumo a São Paulo. Viveu na periferia do Guarujá e, depois, seguiu com a mãe e irmãos para a capital – onde morou em uma habitação de um cômodo, nos fundos de um bar.
Engraxate e office boy, Lula se empregou na Fábrica de Parafusos Marte. Concluiu curso de torneiro mecânico no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e se tornou metalúrgico. Aos 17 anos, perdeu o dedo mínimo da mão esquerda em um acidente de trabalho.
Movimento sindical e PT
Lula trabalhou na Indústria Villares, metalúrgica em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista. Ingressou no movimento sindical por influência do irmão José, chamado de Frei Chico. Foi suplente, primeiro-secretário e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.
Reeleito presidente do sindicato, Lula ganhou visibilidade nacional pela liderança nas greves de metalúrgicos que paralisaram o ABC em plena ditadura militar (1964-1985). O governo federal reagiu, e o sindicalista ficou 31 dias na cadeia em 1980, com base na antiga Lei de Segurança Nacional.
Também em 1980, Lula foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), junto com políticos, sindicalistas, intelectuais, lideranças rurais e religiosas. O país entrava na reta final da ditadura, com a abertura política “lenta e gradual” definida pelos militares, e ganhou alternativa de partido à esquerda.
Derrotas para Collor e FHC
Lula concorreu, sem sucesso, ao governo de São Paulo em 1982 e foi eleito deputado federal em 1986, participando da Assembleia Nacional Constituinte, que promulgou dois anos depois a atual Constituição do Brasil.
Em 1989, o petista estreou na corrida ao Planalto na primeira eleição direta para presidente desde 1960. Ele chegou ao segundo turno, porém foi derrotado por Fernando Collor de Mello – à época no PRN – que em 1992 renunciou e foi condenado em um processo de impeachment motivado por denúncias de corrupção.
Lula voltou a concorrer ao Planalto em 1994 e 1998, porém nas duas ocasiões foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), candidato impulsionado pelo êxito do Plano Real no combate à inflação.
A primeira vitória
Em 2002, com o mote de que a esperança venceria o medo da vitória de um candidato de esquerda, Lula caminhou ao centro com sua versão “paz e amor”. Para acalmar temores do mercado financeiro, lançou a “carta ao povo brasileiro”, na qual disse que manteria as contas públicas sob controle.
A estratégia deu certo. Lula foi eleito com 52,7 milhões de votos. Derrotou no segundo turno José Serra (PSDB), candidato governista. Em 1º de janeiro de 2003, tornou-se o primeiro operário a governar o Brasil. Definiu como meta a redução da miséria e da desigualdade, aprimorou políticas sociais e lançou programas como Fome Zero, Bolsa Família e ProUni.
Mensalão
Em 2005 estourou o escândalo do mensalão. O então deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, delatou em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo” um esquema de compra de apoio político no Congresso por meio de mesadas pagas a parlamentares de partidos da base de Lula.
O escândalo resultou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios e derrubou o ministro da Casa Civil, José Dirceu. O PT argumentava que o esquema se tratava de caixa dois, dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral.
Ainda em 2005, Lula foi à televisão para um pronunciamento em cadeia nacional no qual se disse “traído”. Sem usar a palavra mensalão, admitiu que o partido e o governo tinham errado e deveriam pedir desculpas.
Reeleição e sucessão
Lula resistiu à crise. Ampliou a base parlamentar e se manteve popular graças ao bom momento da economia, com inflação sob controle, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e aumento da classe média, cenário favorecido pela valorização das commodities. O desempenho refletiu nas urnas.
Em 2006, Lula recebeu 58,2 milhões de votos e venceu Geraldo Alckmin – que estava no PSDB – no segundo turno. Reeleito, lançou novos programas, com destaque para a política de habitação do Minha Casa, Minha Vida e para as obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Lula foi badalado no exterior, ao ponto de ser chamado de “o cara” pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Com aprovação recorde de 87%, o petista se despediu em 2010 tendo sido decisivo na vitória de Dilma Rousseff (PT), sua ex-ministra, na corrida presidencial.
Lava Jato
Como ex-presidente, Lula viveu altos e baixos. Superou um câncer na laringe e viu o Supremo Tribunal Federal (STF) condenar 28 dos 38 réus na ação penal do mensalão.
Em 2014, ele comemorou a reeleição de Dilma. No mesmo ano, começou a Operação Lava Jato, que descobriu esquema de desvio de recursos públicos nas gestões petistas por meio de contratos da Petrobras. O dinheiro irrigava doleiros, executivos, partidos e políticos.
Fonte:g1.globo.com