Por trás de cada leitor e leitora, cada escritor e escritora, há, muitas vezes, alguém que nunca pôde ler ou escrever, mas que abriu as portas para que outros estudassem. Essa reflexão marcou o lançamento de Elos, sexto livro do escritor e prefeito de Antônio Cardoso, Jocivaldo dos Anjos, apresentado na manhã deste sábado – 29/11 – durante a III FLIAC – Feira Literária Internacional de Antônio Cardoso.

Uma obra plural, composta por lirismo, sátira e crítica social, Elos reúne poemas líricos, satíricos e textos que reafirmam o estilo versátil e comprometido do autor. Para Jocivaldo, lançar esse novo trabalho na própria terra é motivo de emoção e pertencimento. Ele lembra de uma frase do poeta Bule-Bule que traduz bem esse momento: “O sabor é mais gostoso e mais bonito. Falar dos nossos, para os nossos.”
Riqueza que vem das raízes e da família
Ao refletir sobre como é visto pela sociedade, o autor destacou que, “num mundo materialista, me enxergam como o prefeito mais pobre já eleito aqui. Mas eu também posso fazer outra leitura. Sou um prefeito rico: estou prefeito, e tenho pai e mãe vivos para apreciarem essa minha experiência. É preciso reposicionar esse lugar de riqueza, para construir uma nova imagem do Ser”.
Essa riqueza afetiva e ancestral se traduz em sua obra e, não por acaso, todos os seus livros são dedicados à sua mãe, uma mulher que, mesmo sem saber ler ou escrever, fez nascer nele o amor pelas palavras. “Há pessoas que, não podendo ler, fizeram com que a gente pudesse aprender a ler e escrever”, diz. É preciso reconhecer isso.
Um dos momentos marcantes do lançamento foi a leitura do poema “Mainha”, que retrata amor e sobrevivência no sertão baiano:
Teve muito eu te amo
Sem dizer que era amor
Eram gestos e louvor
Shorts de tiras de pano.
Mingau de água e farinha
Caderno de folha amarela
Cocada vendida na janela
Tivemos o que a gente tinha
Foram afetos sem palavras
Ações de fazer estrada
Por onde a gente caminha
Puxões de orelha e cuidado
Teve amor de todo lado.
Sem saber falar
Fez e fazia.
A poesia de Jocivaldo dos Anjos resgata e valoriza a memória de homens e mulheres do sertão. Seus versos recriam um tempo em que a afetividade se construía no esforço diário de manter a família viva, em meio às incertezas da seca e da colheita. Seis livros comprometidos com a ancestralidade e a terra, nos quais demonstra profundo compromisso com sua gente, com as histórias de seu lugar.
Sua escrita nasce tanto dos livros quanto das experiências concretas da vida, das “prosas e provas” que moldaram sua trajetória. Como escritor e pesquisador, ele afirma que é a escrita que move seus dias. É com as palavras que organiza sonhos e ideais, que se refaz como homem, pai, filho, gestor e, sobretudo, como poeta.


















