Um frigorífico de Canoas vendeu 800 toneladas de carne que tinham ficado dias debaixo d’água para a Tem Di Tudo Salvados. O negócio seria para transformar o produto em ração animal. Mas, de acordo com a investigação, não foi isso o que aconteceu.
As polícias do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul estão investigando onde foram parar as 800 toneladas de carne estragada revendidas para consumo humano.
Um crime que começou a ser planejado oito meses atrás, durante a tragédia no Rio Grande do Sul. Assim que a água baixou, um frigorífico de Canoas, cidade próxima a Porto Alegre, vendeu 800 toneladas de carne que tinham ficado dias debaixo d’água para a Tem Di Tudo Salvados, uma empresa de Três Rios, no Centro-Sul Fluminense.
O negócio seria para transformar o produto em ração animal. Mas, de acordo com a investigação, não foi isso o que aconteceu – e a descoberta foi por acaso. Veja o esquema. Segundo a polícia, a Tem Di Tudo comprou do Sul, revendeu para uma empresa de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que por sua vez, vendeu para uma empresa de Minas Gerais, que ofereceu a carne de volta ao frigorífico de Canoas. A empresa identificou, pela numeração do lote na embalagem, que aquela era a carne vendida para virar ração e avisou a polícia.
As fotos mostram a carne podre que chegou a ser recomprada pela empresa gaúcha. A carga tinha passado por uma maquiagem: foi lavada para tirar sinais de lama e ganhou novas caixas, de carne nobre importada do Uruguai.
“A gente está contando com a boa fé dos empresários que tenham adquirido essa carne da empresa Tem Di Tudo para que as pessoas procurem as delegacias de polícia. Em cada estado do Brasil existe uma delegacia do consumidor, que é a delegacia que está apta a receber essa denúncia”, diz o delegado Wellington Vieira.
As notas fiscais especificam que a Tem Di Tudo não comprou carne e, sim, o que, naquela condição, é chamado de resíduos salvados e mercadoria descartada.
A polícia cumpriu oito mandados de busca e apreensão na Tem Di Tudo e encontrou à venda no mercadinho do frigorífico um pacote de picanha que a perícia já comprovou ser do frigorífero Rio Grande do Sul. Além de outras duas toneladas de peças de carne podre, que seriam vendidas, e uma grande quantidade de medicamentos e até produtos de beleza com prazo de validade vencido.
Dois sócios, o operador de logística e o gerente da empresa foram presos. O gerente e o operador prestaram depoimento. Segundo a polícia, apenas o gerente Sílio José Marino aceitou dar mais detalhes da operação no depoimento. Ele contou que foi ao Rio Grande do Sul em 2024 com os sócios da Tem Di Tudo e disse que ficou em Porto Alegre mais 17 dias para cuidar do transporte da carga.
Fonte:g1.globo.com