Recordar os mortos faz parte da vida. No dia primeiro de novembro a Igreja celebra todos os santos e, no dia dois, todos os falecidos. As duas celebrações estão interligadas. A festa de Todos os Santos dirige nosso olhar para o céu. Uma festa cheia de esperança! O dia de Finados nos convida a pensarmos nos falecidos e tomarmos consciência de nossa comunhão com eles. Nesse dia os cemitérios ficam repletos de pessoas que levam flores, acendem velas e fazem preces. Quantas recordações!
MORREMOS em prestação. Morremos um pouco a cada dia. No aniversário, comemoramos um ano a mais. Na contabilidade correta, deveríamos contar um ano a menos. A cada ano, a cada dia, mais nos aproximamos do fim da viagem. Mas, essa viagem, não tem quilometragem certa, nem tempo certo de duração. Ela está sujeita a um acidente qualquer e em qualquer lugar. A morte é nossa caroneira e pode assumir o comando a qualquer momento.
ONDE VAMOS morrer? Não sabemos. A morte está presente em toda a parte. Na terra, no ar, no fogo, na água, nas ruas, nas praças, nas residências, nos hospitais, nas rodovias… Quando vamos morrer? Também não sabemos! Quem inicia um novo dia, não tem certeza de chegar à noite. Quem começa a construir uma casa, não tem certeza de vê-la concluída… Jesus nos alertou “Vigiai e orai, porque não sabeis nem o dia e nem a hora” (Mt 25,13).
O FILÓSOFO francês Gabriel Marcel disse: “A morte é bela, se a vida for bela”. Morre-se bem, quando se vive fazendo o bem. Quando o Papa João Paulo II e a Irmã Dulce foram sepultados, a multidão, até então silenciosa, prorrompeu numa salva de palmas. É, por isso, que a sabedoria antiga afirma: “Há mortos que falam”. Isto é, há vidas vividas de forma admirável que se constituem na mais eloquente mensagem para os que ficam. Eles são uma referência e modelos a serem imitados.
TODOS nós temos uma missão a cumprir nesse mundo. Ninguém nasce por acaso! Nossa vida é uma peregrinação. É uma romaria. A vida assemelha-se aos rios: todos correm para o mar. Não temos aqui casa permanente. Não há como fugir da lição que o cemitério nos dá, mas é possível transformá-la, em sinal de esperança: “Nosso coração está inquieto, enquanto não repousar em vós, Senhor”. (Santo Agostinho).
O CRISTIANISMO tem boas notícias sobre a morte. Para o cristão, o que parece morte torna-se vida, porque a pessoa que morre vai para a Casa do Pai. A morte, para quem acredita em Jesus e fez o bem, é uma recompensa. São Paulo afirma: “Para mim viver é Cristo e morrer é lucro” (Fl 1,21). Que todos nós, no final de nossa vida possamos dizer: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito
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