Quem nunca pensou em viajar e tomou um susto ao pesquisar os preços das passagens de avião? Nos últimos 12 meses, os bilhetes aéreos encareceram, em média, 35,7%, de acordo com o IPCA. Mas a realidade é que, nos trechos mais concorridos, os consumidores têm percebido uma alta ainda maior, é nesse momento que o bom e velho transporte rodoviário, que teve um aumento mais tímido, de 13,2%, volta a ser opção. Para atender os novos passageiros, as viações têm investido em veículos mais equipados.
Quando começou a viajar de avião, no início dos anos 2000, Maria Mendonça, de 69 anos, chegou a dizer: “nunca mais ando de ônibus”, mas teve que voltar atrás. Pelo menos duas vezes ao ano, a aposentada percorre o trecho Vitória (ES) – Salvador (BA) de avião, mas com o aumento das passagens teve que considerar o transporte rodoviário.
“Há três anos, eu pagava cerca de R$ 600 para ir e voltar de Salvador. Na minha última viagem, em julho, comprei a passagem só de ida, por R$ 1.500, na esperança de que o preço do trecho de volta baixasse. Engano meu, não achei por menos de R$ 2.500. A solução foi voltar de ônibus e encarar mais de 24 horas de viagem. Confesso que não foi tão ruim quanto pensava, a qualidade dos ônibus melhorou muito e o bilhete saiu por R$ 250. Em viagens mais curtas, como Vitória – Rio de Janeiro, estou preferindo ônibus”, comenta.
Maria está longe de ser a única brasileira a optar pelo ônibus na hora de viajar. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Transportes Terrestres (Abrati), as empresas já sentiram o aumento da demanda: a alta em 2022 chega a 60%.
A procura por parte dos consumidores está levando as empresas a comprarem mais veículos, para se ter uma ideia, no ano passado, de janeiro a setembro, foram vendidos cerca de 500 ônibus rodoviários para o mercado brasileiro. Já em 2022, no mesmo período, foram emplacadas cerca de 1.270 unidades, alcançando um crescimento exponencial na ordem de 145%, segundo a Abrati.
Mudança de comportamento Guilherme Dietze, assessor econômico da Fecomércio, explica que a pandemia, e a consequente alta dos preços das passagens aéreas causada pela valorização do combustível e demanda reprimida, mudou o comportamento do consumidor de viagens em alguns aspectos.
“Hoje, para uma família de quatro pessoas viajar de São Paulo para Fortaleza, o custo com bilhetes aéreos é de, pelo menos, R$ 12 mil. A saída tem sido mudar para um destino mais próximo, no interior do estado, para ir de ônibus ou carro alugado, por exemplo”. Devido a essa mudança no perfil dos usuários de ônibus, para pessoas que estavam adaptadas a viajar de avião, as empresas estão investindo em veículos com mais estrutura e conforto, com poltronas maiores, tomadas para recarga de celular, Wi-Fi, serviço de bordo, entre outras comodidades.
“Como há mais concorrência entre empresas de ônibus, e um sistema de precificação mais simples do que o avião, o preço da passagem permanece competitivo. Sem grandes aumentos por conta da inflação ou custo mais alto por ser de última hora”, avalia Dietze.
Para o assessor da Fecomércio, a vantagem dessa mudança de comportamento é que o setor de turismo não está perdendo clientes, apenas se reacomodando. A CVC Turismo, por exemplo, aumentou seu portfólio de fretamento rodoviário desde o início da pandemia. “O transporte rodoviário é uma modalidade de viagens muito procurada pelos brasileiros, com crescimento gradativo nos últimos anos, especialmente no período da pandemia, para realização das viagens regionais e também como alternativa para as viagens de avião. O perfil do cliente que opta por viagens rodoviárias é muito misto. Historicamente, temos passageiros que buscam destinos de interior que não possuem cobertura via malha aérea.
Ana Carolina Medeiros, vice-presidente administrativa da Associação Brasileira de Agências de Viagens, afirma que a associação também percebeu um aumento considerável da busca por ônibus. “O comportamento do viajante mudou por conta dos preços das passagens. Em trajetos mais curtos, entre uma capital e outra, por exemplo, compensa financeiramente optar pelo ônibus”, opina. Segundo a vice-presidente da associação, o investimento em novas tecnologias têm sido um fator importante para que as pessoas se fidelizem a esse meio de transporte, apesar da longa distância.
Fonte:www.uol.com.br