O uso litúrgico das cinzas tem origem no Antigo Testamento. A Bíblia conta a história de Jó e mostra seu arrependimento, quando ele se cobre de cinzas. (Jó 42,6). No Novo Testamento, o próprio Jesus fez referência ao uso das cinzas, quando disse que pessoas não se arrependiam de seus pecados, apesar de terem visto milagres e escutado a Boa Nova. (Mt. 11,21).
A IGREJA, desde o início, continuou a prática do uso das cinzas. Com o passar do tempo, introduziu esse uso como sinal do início do tempo da Quaresma. Por isso, na Quarta-feira de Cinzas, são colocadas cinzas na cabeça dos fiéis. O ministro, traçando o Sinal da Cruz, diz: “Lembra-te que és pó e em pó te converterás”. (Gn. 3,19), ou “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc. 1,15).
AS CINZAS simbolizam a transitoriedade e a brevidade de nossa vida nesse mundo. Ou seja, somos peregrinos a caminho de um novo céu e de uma nova terra. Estamos de passagem neste mundo. Ele não e nossa casa definitiva. Nascemos, crescemos e morremos. Uns negócios, trabalhos, amigos, uma família, algumas realizações, tristezas e alegrias e adeus. Passamos como nuvens no céu. Passamos como a erva do campo. Passamos como as águas dos rios que rolam para a imensidão do mar.
AS CINZAS lembram a fragilidade da vida humana. O mais belo edifício, uma casa, um automóvel, em poucos minutos, pode reduzir-se a cinzas, a nada. Nosso corpo, dia mais, dia menos, voltará a ser pó. Todos, ricos, pobres, brancos e pretos, seremos reduzidos, após a morte, a um punhado de pó. Por isso, Deus disse: “Tu és pó em pó te hás de tornar”. (Gn. 03,19).
AS CINZAS nos estimulam, também, a sermos humildes. A humildade é a virtude fundamental na vida. Humildade é saber quem se é, e qual lugar que se deve ocupar no mundo. Humildade se opõe à vaidade e à soberba. A humildade deve ser uma característica do cristão. Disse Jesus: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”.
PORTANTO, as cinzas nos lembram que nosso corpo será reduzido a pó, a nada. Porém, Deus, infinitamente poderoso, haverá de chamar esse mesmo pó novamente para a vida. Por isso, tudo é motivo de alegria e esperança. Temos certeza que esse pó um dia ouvirá a voz de Deus e se transformará em vida. Foi o próprio Jesus que disse: “Eu sou a Ressureição e a vida quem crê em mim tem a vida eterna”. (Jo. 11,35).
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito
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